sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A MÃO



De repente se descobre
que a mão que às vezes se aperta
não tem a postura nobre
e nada de bom desperta.
Transmite uma sensação
de um gesto que acaricia
mas deixa, na nossa mão,
não calor, mas coisa fria.
O aperto é dado com gana
e chega a ser dolorido:
quem aperta nos engana,
e isso é logo percebido.
A mão pode fazer tudo,
pode se erguer num protesto,
ser defeza, ser escudo,
ou matar - num simples gesto.
Pode ser a mão que fecha
para desferir o murro
que rápido como a flexa
resulta num grito ou urro.
Pode plantar a semente,
regá-la e até cuidar dela,
para que a flor, de repente,
rompa a terra, seja bela.
Pode ser livre ou ser presa
de um ideal que a torna escrava
de uma crença sem grandeza
mentida pela palavra.
Quanta coisa significa
a mão que a gente carrega
no corpo que pontifica
num ato de larga ou pega.
Pode até ficar na História
por mil gestos dissolutos
tendo a eternidade inglória
de ter sido a mão de Brutos.

Théo Drummond

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