domingo, 17 de agosto de 2008

SERÁ


Escuta a chuva e perdoa,
esquece a nuvem que passa,
o fruto, a flor não nascida,
o pássaro que não voa,
a erva daninha que grassa
na terra agora perdida
e que ninguém salvará.
Esquece aquilo que vinha
mas não veio e nem virá.
Escuta a dor que sussura
mas bem cedo gritará.
O doce, o tênue sorriso,
a rosa que alguém plantou
sem regar - que era preciso -
e por isso morrerá.
Roga a Deus que não permita
o mal que você não quer,
ou a agonia infinita
que num momento qualquer
o seu peito afogará.

O que tem que ser, será.

Guarda fundo, bem no fundo,
do coração tão sofrido
cada golpe vil, profundo
que você receberá
daquela que foi seu mundo
e um dia não mais será.
O verbo fácil que ofende,
a luz que é simples e pura,
o amor que é todo ternura,
o olhar que ninguém entende,
o adeus que um dia virá.
Lembre apenas, mas não pare,
não se prenda ao que ficou
e que nunca vai voltar
( ou será que voltará?)
Não vale, eu sei que não vale
manter a esperança acesa
e o ouvido atento a escutar
uma voz que não se cale
falando o que há de falar.
Passado tempo haverá
descrença, raiva, tristeza,
e tudo se acabará.

O que tem que ser, será.

Théo Drummond

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