Fui pedra e me atiraram ribanceira abaixo.
Mergulhei numa poça e lá fiquei submerso
agregado a um terreno ao qual nem pertencia.
Fui luz na escuridão, ninguém seguiu meu facho.
Fui palavra perdida, astro sem universo,
fui voz que não se ouviu, fui olhar que não via.
Terra, não germinei - que era morta a semente
que pudesse gerar uma árvore frondosa
que desse larga sombra com seus galhos tortos.
Fui árido deserto sob um sol inclemente
no qual nunca nasceu uma flor, uma rosa,
meu chão só me serviu para enterrar meus mortos.
Fui pássaro e não tive a amplidão desejada.
Andarilho, jamais cheguei ai fim da rota.
Fui nuvem que no céu qualquer brisa dilui.
E hoje sinto, afinal, por não ter sido nada,
o quanto me destruí, de derrota em derrota,
e o quanto eu precisava ser o que não fui.
Théo Drummond
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