Como se eu fosse um privilegiado Deus mostrou-se a mim
dizendo-me que teria um tempo a mais de vida.
Passada a surpresa sentei no banco junto à lagoa
e vejo como tudo tinha que ter sido diferente.
Deixei de dizer tantas coisas que, se tivesse dito,
te faria feliz - mas as palavras que querias escutar
(um simples "eu te amo"), permaneceram caladas em mim.
E agora, que precisava dizê-las, onde estás?...
Nesta sobrevida que começou agora
penso nos amigos que nunca mais procurei,
e, se o tivesse feito, teria sentido
o surpreso e apertado abraço de cada um.
Permiti que o tempo se fosse e perdi-os,
como perdi manhãs de sol, noites grávidas de estrelas,
o vôo sem igual dos beija-flores, o vento ventando
e trazendo recados que não tive paciência de procurar entender.
Na vida a mais que Deus me concedeu
devo aprender a ouvir, e a dizer a tantos outros
o que esperaram ouvir de mim - e que não disse;
a não dar importância às coisas mínimas que podem
valer nada, mas escondem tantas verdades...
Preciso ser eu mesmo e o serei, neste tempo maior de vida
que nem sei o quanto vai durar.
Penso, enquanto caminho pela areia,
que Deus, ao me prometer novos amanhãs,
estava me concedendo algo que sabia que necessito:
o dia que vai nascer poderá ser o último amanhã que me reste
e eu preciso livrar-me de todos os meus remorsos.
Théo Drummond
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