Sinto falta de ti e um grande remorso
por não te ter ouvido o quanto deveria.
Eras o espelho no qual poderia ter me olhado
e transformado minha estúpida inexperiência
em algo que valesse a pena.
Eras a mão que pressionando levemente meu ombro
tentava me apontar um rumo sem exigir que o seguisse.
Eras o olhar que olhava longe
para me mostrar ser possível ir até lá.
Eras a voz calma que conseguia abafar a estridência
dos meus gritos quando eu sentia a raiva dos que não sabem entender.
Eras o espantalho dos meus medos.
Eras o silêncio que tranqüiliza, afaga e relaxa.
Eras a luz na escuridão a afugentar meus fantasmas.
Eras o calor da presença, o muro onde podia me apoiar.
Eras a água que me regava, a árvore que me dava sombra,
a casa que me protegia dos ventos e da chuva.
Eras a disfarçada fortaleza onde encontrava sempre
os portões abertos para me receber e proteger.
Eras “o que estava por perto”, como que por mera
casualidade, em todos os meus instantes de fraqueza.
Eras o companheiro perfeito que no pequeno barco
me ensinava o que era o mar.
Eras, na verdade, meu único amigo...
Hoje vejo que te perdi porque não quis te ter
na plenitude do que me oferecias.
Hoje sinto quanto a mais poderia ter aprendido contigo
e quanto a menos com isso teria sofrido.
Pequeno e inútil príncipe que julguei ser, hoje choro
ao perceber que não te aproveitei, que não te usufruí
pela tola razão de imaginar-te eterno.
Théo Drummond
(Do livro Vôo de Nuvem/1993)
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