sexta-feira, 17 de maio de 2013

LEMBRANÇAS




Às vezes dói no meu peito
Uma saudade dos anos
Que vivi naquela casa
Daquela pequena vila.
Hoje, por ser homem feito,
Convivo com desenganos,
Com ser triste – o que me arrasa.

Não tenho vida tranquila,
Meu destino não tem jeito.
Meu futuro me aniquila,
Sou o eterno insatisfeito
Que nunca se rejubila
Porque só sinto direito
Como o coração vacila
Por desamor ou despeito.

Só quando criança brincava,
Movido pela esperança.
O tempo todo ficava
Sem notar que o tempo avança,
E enquanto o tempo avançava,
Corria, ria, pulava,
Como faz qualquer criança.

O que sucedeu a mim
Quando homem me tornei,
Foi ver quanto a vida é ruim,
Bem pior do que pensei.
Que todo sonho tem fim,
E tudo o que imaginei
Que iria ganhar, enfim,
Na verdade não ganhei.
Portanto, infeliz assim,
Mais amargo me tornei.

E então pude constatar
Tudo o que a esperança enfeixa
E então é inútil sonhar,
Fingir que não se tem queixa
Da vida a nos maltratar.
Parece à longa madeixa
Que a moça quer conservar
Mas que o destino não deixa,
por isso tem que cortar.

Me dói muito pois não pude
Envelhecer como a vila,
Que até hoje engana, ilude,
Pela aparência tranquila
Daquelas casas em fila
Que espero que nunca mude.

A lembrança que ainda tenho
Revive as vezes que passo
Pela rua, quando venho
Andando com meu cansaço.

Théo Drummond

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

DESPEDIDA

Outona-se a poesia no poeta
despedem-se os versos
amarelecidos pela desesperança.
Deixe que repousem
pousados no chão úmido de lágrimas.

Um dia,
se a primavera voltar
os trará de volta.

Ou,
servirão, quem sabe, de adubo
ajudando que
versos fortes surjam
brotados sobre as letras
que ali jaziam
esquecidas pela passagem do tempo.

Clau Assi



Amigos,

Estou me ausentando da internet por tempo indeterminado. A rotina me vence, temporariamente.  Se Deus quiser a primavera logo me visitará.

Um grande beijo ternurento.

Clau Assi

domingo, 12 de agosto de 2012

De Pai para pai



Do Pai o dom: de pai.
Ao Pai a prece: pelo dom.
No Pai a força: em prece.
Do Pai para o pai: a força.
Pelo pai: ao Pai.

Clau Assi

sábado, 28 de julho de 2012

VESTIMENTA


Na gaveta d’alma
o poeta guarda a noite
como seda valiosa.
Quando no peito
o ouro despede-se
e o brilho prata fulgura,
abre-a.
Despe-se de si;
no chão,
pousa delicadamente
a realidade.
Veste-se de sonhos
e então a vida é metáfora.

Clau Assi
(do livro Melhores da Poesia Brasileira, pág. 28)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

DIGITAL DE AMOR



O ferro não forja;
a força não desbrava;
apenas o toque sedoso
que tange a pele em carícias
é que sua marca crava
em tatuagem eterna
numa digital de amor.

Clau Assi

DE DOR E ESPERANÇA



Nos meandros da dor
esperam sentadas
a onda de esperança,
que sempre chega,
e lava os pés
pendurados na janela.

(Poema oferecido às crianças que sofrem com câncer infantil)

Clau Assi

domingo, 29 de abril de 2012

A ROSA E EU

Olho a rosa e não sei o quanto vai durar.
Trato-a como se fosse a filha preferida.
Protejo-a contra o vento e estou sempre a regar
na esperança que possa prolongar sua vida.
 
É uma rosa vermelha, nada parecida
com flores que nasceram em meu jardim linear.
Por enquanto é botão, por isso me convida,
a ficar perto dela, encantado, a cuidar.
 
Mas por mais que lhe tenha todo o amor que exista
dentro do coração, quando ela florescer,
não sei o que fazer para que ela resista.
 
E quando a minha rosa começar a perder
as pétalas rubras, e da vida desista,
eu sei que então também com ela vou morrer

Théo Drummond

sábado, 17 de março de 2012

SARAU

Num tempo de breu
de braços estendidos
dor intensa
a vida soluçou-me
saudade imensa
ecoou-me.
Rígida e fria
qual tampo de mármore.

Poesia bendita
que em rimas suaves
sonho acordou
corpo e alma juntou.

Repara, vê!
Sob seu laço estreito
eu e você
atados num abraço
formamos o infinito
e recebemos a vida
de braços estendidos
soluçando amor.

Clau Assi

sexta-feira, 2 de março de 2012

ATA-ME


De corpo e alma, ata-me,

tronco firme de amor.

Carrega-me,

amarras rubras de sangue,

deslizando juntos,

eternidade afora, ata-me.


Clau Assi

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

NÃO DEVIA


Quando você, de fato, amar alguém,
Que desdenha esse amor e nem parece
Perceber esse amor que você tem,
Que como coisa ruím  a gente esquece,

E o seu amor, que tanta força tem,
Nem percebido seja e se confesse
A cada instante, neste olhar que vem,
Dizer, por tanto amor, quanto padece,

Vai morrer devagar, despercebido,
Como a folha que leva a ventania,
E some, como o amor já não querido,
 
Até que, sem querer, um belo dia,
Você vai se lembrar, arrependido,
Do amor que deixou ir e não devia.

Théo Drummond