Às vezes dói no meu peito
Uma saudade dos anos
Que vivi naquela casa
Daquela pequena vila.
Hoje, por ser homem feito,
Convivo com desenganos,
Com ser triste – o que me arrasa.
Não tenho vida tranquila,
Meu destino não tem jeito.
Meu futuro me aniquila,
Sou o eterno insatisfeito
Que nunca se rejubila
Porque só sinto direito
Como o coração vacila
Por desamor ou despeito.
Só quando criança brincava,
Movido pela esperança.
O tempo todo ficava
Sem notar que o tempo avança,
E enquanto o tempo avançava,
Corria, ria, pulava,
Como faz qualquer criança.
O que sucedeu a mim
Quando homem me tornei,
Foi ver quanto a vida é ruim,
Bem pior do que pensei.
Que todo sonho tem fim,
E tudo o que imaginei
Que iria ganhar, enfim,
Na verdade não ganhei.
Portanto, infeliz assim,
Mais amargo me tornei.
E então pude constatar
Tudo o que a esperança enfeixa
E então é inútil sonhar,
Fingir que não se tem queixa
Da vida a nos maltratar.
Parece à longa madeixa
Que a moça quer conservar
Mas que o destino não deixa,
por isso tem que cortar.
Me dói muito pois não pude
Envelhecer como a vila,
Que até hoje engana, ilude,
Pela aparência tranquila
Daquelas casas em fila
Que espero que nunca mude.
A lembrança que ainda tenho
Revive as vezes que passo
Pela rua, quando venho
Andando com meu cansaço.
Théo Drummond
1 comentários:
Um poema melancólico, que nos remete à infância, às saudades que nos deixaram. Os sulcos que a vida nos traz.
Um grande beijo ternurento, Théo Drummond
Da sempre fã, Clau Assi
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