sexta-feira, 17 de maio de 2013

LEMBRANÇAS




Às vezes dói no meu peito
Uma saudade dos anos
Que vivi naquela casa
Daquela pequena vila.
Hoje, por ser homem feito,
Convivo com desenganos,
Com ser triste – o que me arrasa.

Não tenho vida tranquila,
Meu destino não tem jeito.
Meu futuro me aniquila,
Sou o eterno insatisfeito
Que nunca se rejubila
Porque só sinto direito
Como o coração vacila
Por desamor ou despeito.

Só quando criança brincava,
Movido pela esperança.
O tempo todo ficava
Sem notar que o tempo avança,
E enquanto o tempo avançava,
Corria, ria, pulava,
Como faz qualquer criança.

O que sucedeu a mim
Quando homem me tornei,
Foi ver quanto a vida é ruim,
Bem pior do que pensei.
Que todo sonho tem fim,
E tudo o que imaginei
Que iria ganhar, enfim,
Na verdade não ganhei.
Portanto, infeliz assim,
Mais amargo me tornei.

E então pude constatar
Tudo o que a esperança enfeixa
E então é inútil sonhar,
Fingir que não se tem queixa
Da vida a nos maltratar.
Parece à longa madeixa
Que a moça quer conservar
Mas que o destino não deixa,
por isso tem que cortar.

Me dói muito pois não pude
Envelhecer como a vila,
Que até hoje engana, ilude,
Pela aparência tranquila
Daquelas casas em fila
Que espero que nunca mude.

A lembrança que ainda tenho
Revive as vezes que passo
Pela rua, quando venho
Andando com meu cansaço.

Théo Drummond

1 comentários:

POESIA CÁ E LÁ disse...

Um poema melancólico, que nos remete à infância, às saudades que nos deixaram. Os sulcos que a vida nos traz.

Um grande beijo ternurento, Théo Drummond

Da sempre fã, Clau Assi